terça-feira, 16 de novembro de 2010

#MinutosDeSabedoria: Danuza Leão

Duas bolas, por favor!


Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa,contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido. 


Uma só. 


Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa. 
Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação. 


O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano. 
A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade. 
A gente sai pra jantar, mas come pouco. 
Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons. 
conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil'). 


Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta./ 


Tem vontade de ficar em casa vendo um dvd, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar./ 


E por aí vai. 


Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação... Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão... 


Às vezes dá vontade de fazer tudo “errado”. 
Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos. 
Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. 


Recusar prazeres incompletos e meias porções. 


Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.

Um dia a gente cria juízo. 
Um dia... 
Não tem que ser agora.

Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de chocolate... 
Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago.











Bolsinha

2 comentários:

Zizi disse...

Que lindo, Dona da Bolsinha!
Sempre leio seu blog mas nunca comento, mas este texto é tão... tão... nós mulheres. Como a gente deve ser.
Tô vendo que hoje bolsinha tá meio deprê, mas isso passa... até uva passa...

Julia Moraes disse...

Juju, incrível esse texto da Danuza. Sou mega fã dela e, como sempre, soube retratar muito bem o atual momento.
Saudades docê, chuchu.
beijinhos,
Julia.